"Querido R. escrevo-te na certeza de que estas palavras nunca chegarão às tuas mãos. Tens-me feito falta, a tua presença é uma realidade que já faz parte do meu dia-a-dia há longos meses. Ultimamente tenho pensado muito em ti, em mim, em nós, no que faço... Cheguei à conclusão que te amo, mas talvez não pelo que és mas, sim por aquilo que criei na minha cabeça e que defino como sendo tu. Tantas vezes me pergunto se é a ti que amo ou a essa personagem que inventei e que tomou a forma humana do teu corpo. Talvez seja por isso que nunca deixo que me ames realmente, como fazes nos meus sonhos. Como podes ver não o faço por falta de amor, ou muito menos de desejo. Como posso não desejar o teu corpo que ao pé do meu, ainda de menina, é já de homem? Por isso peço-te que não me censures. Perdoa-me se deixo o medo sobrepor-se à minha vontade. Sabes que sou frágil e que tudo isto é novo para a minha cabeça de menina. Também sei que é esse mesmo facto, o de ainda ser uma menina, que exerce um certo fascínio sobre ti. Mas, por outro lado, cobras-me a minha pouco maturidade em certas matérias. Não que sejas já um homem maduro mas, ao contrário de mim, já deixas-te para trás a doce inocência da infância. Embora também tu, muitas vezes demonstres essa mesma falta de maturidade, não é o mesmo, estamos separados por um problema etário chamado geração. E é esse muitas vezes o epicentro dos nossos pequenos conflitos. Por mais que tentemos ignorar, é essa a linha que nos separa. O que de certa forma não me desagrada pois, embora a minha cabeça seja ainda de menina, sempre exigiu algo mais do que aquilo que a minha geração tem para oferecer. Agora tenho-te a ti e a certeza de que pelo menos por agora pertences-me. Mas, então pergunto-me porque nunca consigo ter uma imagem definida do teu rosto, ou porque as coisas nunca acontecem realmente da forma que me recordo então, volto a debater-me com a questão se realmente existes. Se é realmente a ti que amo, ou se como tanto temo, te inventei.
Tua, J."
Tua, J."
Foto: Keira Knightley
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