Acrobata de bengalas

Toda vez que mando uma mensagem mais ácida e o celular dá desligado, faz-se um mar no meu quarto. Toda vez que escuto uma voz um pouco mais alta, um tom mais alterado, penso que fiz algo errado, fico estática, travada. Sempre que há um problema, por mínimo que seja, as reações são extremamente exageradas.

Sabe quando você tem o relacionamento mais difícil da sua vida e passa para a melhor coisa que lhe aconteceu? É isso que me acontece agora. E eu sofri como uma cadela abandonada na rua com 7 filhotes. Sem os filhotes, claro.

E agora, eis que chega a felicidade. E eis que chegou o meu ursinho, o cara dos meus sonhos, tudo que eu sempre pedi a Deus. E eu só vivo com medo de estragar. Por que? Porque ser feliz e serena e completa e sem cismas e sem medos depois de anos e anos de dores é difícil. Às vezes penso que é impossível..

Mas minha vida é cheia de impossíveis, e eu sou uma mula teimosa. Na verdade eu teimei em tentar fazer alguém que nunca soube o que era ser amado de verdade, feliz e amado. Sofri, apanhei da vida. Agora, a vida me vem com uma pluma no rosto na forma de um sorriso.. E eu? Eu sofro!

Porque o pior das pessoas que nos fazem sofrer não é o sofrimento,  é a chaga que deixam na gente pra termos que lidar dias, meses e (Deus me livre!!), anos! Porque eu tinha um amor manco e triste, agora quero ser uma acrobata de bengalas.

Malditos os que nos fazem mal. Não pelo mal, mas pelas sequelas. Eu sofro todo dia por alguém que só me faz bem. Sofro por fantasmas de emoções antigas. Todo dia eu estrago um pouco o meu relacionamento por manter as sensações do cabaré que era antes a minha vida. Eu vivia em vigilância constante, agora posso me jogar na água clara e cristalina e fico olhando como quem vê um penhasco.

É simples: Eu posso voar, e fico engatinhando com medo até mesmo me levantar. E o meu momento é tão especial, tão iluminado.. Mas eu estou escura por dentro, com dores e sentimentos que não cabem no meu relacionamento, mas que há um bom tempo estão aqui e se acham parte de mim.

E o triste que muitas pessoas fazem? Achar que faz parte. O que você sofreu, o que você viveu de ruim, se chama experiência, isso faz parte de você, te empurra degraus para cima. As lembranças ruins, são apenas lembranças. Você não é uma dor, você não é uma rejeição, você não se construiu com mentiras. Você cresceu com dores; você viu que algumas pessoas não entendem o quanto você era uma coisa na vida delas e a rejeitam, por qualquer razão que seja; você ouviu mentiras e teve sua boa fé enganada. Mas isso tudo, toda essa droga que jogaram, todo esse lixo que você acumulou na sua latinha emocional, isso não é você! São as suas experiências e você precisa aprender com elas. E aprender a abandoná-las aos poucos, para que elas não engulam o novo e transformem a vida nova em problemas da velha. Eu aprendo diariamente a ser mais livre e menos besta. Porque aqui admito: Eu era uma jumenta, burra mesmo!! 

Hoje eu sou mais mulher e menos menina, parei de sonhar com um castelo num mundo perfeito e cheio de sol e aceitar os dias de chuva, mas não achar que eles duram pra sempre. Mas eu entrego: As vezes sinto como se tivesse no meio de uma praia ensolarada com um balde de água da chuva nos meus pés dizendo: "Aqui é que você pertence!"

E todo dia eu tenho que olhar pra ele e dizer: "Vá se fu***!!!!!" E todo dia eu vejo o meu sol e vejo o quanto ele foi feito pra mim. E pode ser que eu nunca perca a sombra, que ela sempre esteja atrás de mim. Mas daí eu penso: Não existe luz sem sombra. E a minha a cada dia que passa fica menor.. E eu vou destruir as minhas sombras, eu vou passar por cima de tudo isso, das coisas ruins. Dizem por aí que, se a gente se acostuma com o ruim, com o bom é mais fácil. Pra mim tanto faz, bom ou ruim, tudo é novo. Eu ainda ando com a minha bengalinha, mas meu destino é voar. E sim, é claro que as minhas sombras não diminuiram com esse texto, menos ainda as más lembranças. Mas aqui nasce o aviso e aqui vem a primeira pá de terra delas. Aos poucos ficará apenas o aprendizado, e os novos erros, é claro!

Foto:Leighton Meester